Santa Cruz agora é Série B
Pareceu uma eternidade. Seis anos aprisionado fora das duas principais divisões do futebol brasileiro. Enfim, o Santa Cruz cumpriu sua pena. Mais de 60 mil tricolores presenciaram a libertação do clube na tarde deste domingo, no Arruda. O Santa Cruz está de volta à Série B do Campeonato Brasileiro, uma divisão minimamente digna à grandeza de um clube dono de uma torcida apaixonante.
A vitória sobre o Betim, por 2 a 1, selou o fim da agonia. Acabaram a incerteza, as liminares, as paralisações. As viagens perdidas. Nada disso pertence mais ao Tricolor. Quis o futebol que o Santa Cruz tivesse um centenário com o mínimo de honra. Em 2014, a luta será pela volta à elite.
Em 2011, o ritmo de quedas começou a ser revertido. Austeridade administrativa, união nos bastidores, vontade política, contratações acertadas... Há uma infinidade de razões para justificar o ressurgimento. Nenhum delas, no entanto, é maior do que a recuperação definitiva da identidade coral. O resgate da conexão time-arquibancada. A torcida, guerreira, exigia com gritos que os jogadores fossem igualmente guerreiros. É o tipo da autoridade pelo exemplo. Como não correr diante de 60.000 malucos cantando e gritando num jogo da primeira fase da Série D? Como não se sensibilizar com o amor de tanta gente por um clube na pior fase de sua vida? Não havia como ignorar a voz do povo. Respeitemos a contribuição de muitas pessoas, mas é justo reconhecer que foi torcida que reergueu o Santa. Com bandeiras e com gargantas.
O Santa passou a empilhar estaduais. Era bom, recuperava a auto-estima do clube - mas não era o suficiente. Os tricolores queriam percorrer o caminho inverso, ler o alfabeto de baixo para cima. A subida, claro, não foi tão rápida quanta a descida. Contruir é mais difícil do que destruir. A escalada era acidentada, penosa. Era lenta, verdade, mas era progressiva. Marcada pelos "Eles são favoritos" ou pelos "Nós não ganhamos nada ainda". Por mais fanático que fosse, o torcedor estava também ressabiado. A revolução coral, a despeito do barulho da arquibancada, era silenciosa.
Mas mesmo a mais silenciosa das revoluções precisa de um momento emblemático para simbolizá-la. Um marco. A classificação diante do Betim representa exatamente isso para a história coral. A Série B ainda não é o sonho do torcedor - ele quer, mesmo, a elite. Mas já é uma realidade palatável. Já permite que o tricolor olhe os rivais de igual para igual. Este domingo, amigos, é histórico para o Santa Cruz. O dia em que o Tricolor voltou a ser grande. O dia em que a Cobra Coral recuperou o veneno. A depender do que acontecer daqui para frente, pode ter peso semelhante ao célebre 03 de fevereiro de 1914.
Naquele dia, o nascimento. Neste, o renascimento.
Fonte: Globo Esporte e NE10
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