Mais de 50 membros da Torcida Organizada Inferno Coral invadiram o Arruda e causaram terror entre jogadores, funcionários e jornalistas, por volta das 15h desta quinta-feira. Cantando gritos de guerra e com os rostos cobertos por camisas da facção, os vândalos entraram no clube pelo portão de acesso da Rua das Moças e seguiram para a sala de imprensa, onde partiram para cima dos profissionais e proibiram que fossem feitas imagens da ação, chegando até a empurrar um fotógrafo e a reter os instrumentos de um outro. De lá, eles abriram o portão que dá acesso aos vestiários e aproximadamente 10 deles foram à procura de jogadores e dirigentes. Muito barulho e gritos foram ouvidos.
Por conta do grande número de torcedores, os seguranças do clube não conseguiram conter os invasores, que só deixaram as dependências do estádio meia hora depois. A polícia chegou cerca de 15 minutos após, mas ninguém foi preso.
A jornalista da TV Jornal, Kaline Bradley, foi empurrada para dentro de um banheiro. Em outro momento, um dos torcedores, com a camisa escondendo o rosto, pegou o notebook e dois smartphones do jornalista Lucas Liausu, do G1 Pernambuco, e colocou na bolsa do profissional, quando veio a ordem de um suposto líder do grupo: "Ninguém veio aqui para roubar. Aqui não tem ladrão. Viemos aqui para protestar." O equipamento foi devolvido ao repórter.
No vestiário, sem acesso para os repórteres, só se ouviam gritos e pancadas em equipamentos, mas nenhum atleta sofreu violência física, segundo o técnico Sérgio Guedes.
"Estou completamente decepcionado com esse tipo de atitude. Isso só serve para denegrir a imagem do Santa Cruz. São irracionais", desabafou o diretor-técnico Ataíde Macedo.
Tudo ocorreu no segundo dia de trabalho do novo técnico Sérgio Guedes. Após o treino, ele adiantou que conversou com os atletas, pois neste sábado, o time enfrenta a Portuguesa pela 2ª rodada da Série B, no Canindé, em São Paulo. "Toda cobrança tem que ter limites. Mas, os jogadores precisam assimilar o que ocorreu e manter a concentração só no jogo."
O atacante Leo Gamalho falou sobre o ocorrido. "Nunca passei por um momento desses. O vestiário não é lugar para protestos. Agora, temos de pensar apenas na Portuguesa e trabalhar bem para conseguirmos um bom resultado."
O presidente Antônio Luiz Neto, que havia deixado o clube às 14h, chegou a conversar com alguns torcedores, que não fizeram parte do ato de violência. Ele retornou ao clube depois de ser comunicado sobre o ocorrido. "Vamos tomar medidas para impedir esse tipo de situação. É inadmissível invadir um vestiário, um local privativo dos atletas, funcionários e comissão técnica."
Outro grupo de torcedores teve acesso ao treino, em decisão tomada pelo presidente, o diretor executivo Sandro Barbosa e o próprio Sérgio Guedes. Na arquibancada, do lado das ruas das Moças, o grupo não poupou o meia Raul, o volante Luciano Sorriso, o lateral Oziel e a diretoria.
Antônio Luiz Neto viu em toda a situação um ato para desestabilizar a diretoria, embora não tenha revelado nomes. "Acho que por trás disso tem política, pois é ano de sucessão. Peguei um clube (2011) sem receita, aos cacos, afastamos os maus gestores. Mas não vão nos desestabilizar. Nestes quase quatro anos, o Santa ressurgiu, conquistou três Estaduais e saímos de uma Série D para a Série B."
PROTESTO PACÍFICO
Contrastando com a agressividade da Inferno Coral, o Movimento Popular do Santa Cruz realizou um protesto pacífico em frente à sede do clube, na Avenida Beberibe. Eles cobraram a diretoria pedindo melhorias, mas não tiveram participação na invasão e nenhuma ocorrência foi relatada referente ao grupo.
Do JC Online
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